
Resfriado comum (“common cold”), gripe “(flu”), covid-19 e as manifestações de alergia respiratória (rinossinusite e asma brônquica) designam entidades clínicas distintas, ainda que frequentemente confundidas entre si, dadas as similitudes de apresentações. Resfriado comum refere-se a uma enfermidade autolimitada, causada por várias famílias de vírus. Os sintomas predominam nas vias aéreas superiores e há pouca repercussão sistêmica. Não costuma causar complicações, nem mesmo óbitos. O tratamento visa amenizar os sintomas.
Embora a maioria das pessoas acometidas pela gripe recupere-se em poucos dias, outras terão complicações que podem levar ao óbito. A gripe é causada pelos vírus influenza A e B e predomina no período outono-inverno, sob a forma isolada, em surtos ou epidemias. É causa frequente de absenteísmo escolar, na indústria e comércio. Em indivíduos susceptíveis, acarreta maior risco de morbidade e mortalidade. O período de incubação é de 1 a 4 dias. São membros da família Orthomyxoviridae e classificados em A, B ou C. O vírus influenza A é o único, dentre eles, historicamente responsável por pandemias. Influenza A é de parasitismo intracelular, classificado conforme as glicoproteinas de superfície: hemaglutinina (H) e neuraminidase (N). Enquanto a hemaglutinina une-se ao ácido siálico das células do hospedeiro para que o vírus seja incorporado, passe a controlar o metabolismo celular e promova sua destruição, a neuraminidase é importante para sua propagação. Assim, a nomenclatura HxNx deriva do número específico da hemaglutinina e da neuraminidase. Existem atualmente 16 tipos de hemaglutininas (H1-H16) e 9 de neuraminidases (N1-N9). Três tipos de hemaglutininas (H1–H3) e dois tipos de neuraminidases (N1-N2) causam doença de grande impacto epidemiológico em seres humanos (H1N1, H2N2, H3N2). Atualmente, dois subtipos de influenza A circulam em seres humanos: H1N1 e H3N2. Mudanças processadas nos antígenos de hemaglutininas e neuraminidases acarretam exposição a cepas para as quais a população tem baixa imunidade. Embora várias epidemias de gripe tenham sido reconhecidas no século 20, três pandemias bem-definidas causadas por subtipos antigênicos de influenza A foram descritas. A gripe espanhola (1914-1918), causada por H1N1 (50-100 milhões de óbitos), a asiática (1957) por H2N2 (2 milhões de óbitos), e a gripe de Hong Kong (1968), associada a H3N2 (700 mil vítimas fatais). Em março de 2009, originou-se no México a primeira pandemia de influenza A do século 21, causada por H1N1, de origem suína. Até dezembro de 2009, 208 países haviam relatado casos dessa pandemia, com o registro de 10mil óbitos. Em agosto de 2010, a OMS anunciou o controle da pandemia e registrou 18.500 vítimas.
Jorge Pereira
Professor titular da Faculdade de Medicina da Bahia -UFBA
Membro titular e diretor de comunicação da Academia de Medicina da Bahia
Presidente da Sociedade de Pneumologia da Bahia